segunda-feira, 26 de maio de 2014

Guerra às superbactérias

"Nos início da década de 1940, começou-se a levar a melhor no confronto com os agentes patogénicos. 

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Contudo, agora, em pleno século XXI, outra batalha acaba de principiar e, por enquanto, o inimigo está a vencer. Os novos soldados são as superbactérias, isto é, micróbios que se tornaram imunes aos tratamentos.

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"O grande problema é se surgir uma variedade totalmente resistente aos antibióticos e muito maligna" resume Fernando Cruz, investigador da Universidade da Cantábria e um dos membros de EvoTAR.

Desde que conseguiu aquela primeira vitória, há 70 anos, o homem sentiu-se tão poderoso com as novas armas que o seu uso transformou-se em abuso. Em muitos casos, os antibióticos foram mal administrados, utilizados para curar constipações e outros males para o quais não serviam. Os pacientes deixavam de tomá-los ao notarem melhoras, antes de todos os micróbios terem morrido devido aos efeitos da medicação. Assim, os micro-organismos, dotados de genes que os protegiam de determinados compostos, sobreviveram e tornaram-se cada vez mais fortes. Tratou-se, de certo modo, de uma versão acelerada de evolução natural. "Os seres humanos é que estão a fazer a selecção", confirma o investigador.

Para podermos entender até onde chega esse crivo involuntário, devemos tomar em consideração que, no mundo dos micro-organismos, também há sexo e capitalismo. Como duas bactérias se encontram, por exemplo, no trato digestivo de uma pessoa, podem trocar material genético, mesmo que sejam de espécies diferentes. Em vez de órgãos sexuais, usam plasmódios, uma espécie de invólucros que possibilitaram, durante milhões de anos, o intercâmbio de ADN e, mais recentemente, dos genes concretos que lhes permitem resistir aos antibióticos.

O processo de criação de uma superbactéria consiste em vária etapas. Primeiro, adquire resistência a mais de três famílias de antibióticos: torna-se multirresistente. O passo seguinte transforma-a numa espécie extremamente forte: já há muito poucos fármacos que conseguem dar cabo dela. A última fase, a mais temida, é quando surge uma bactéria pan-resistente, que nenhum tratamento consegue eliminar. 

Fora do meio hospitalar, até os micro-organismos mais perigosos costumam ser inofensivos, pois um sistema imunitário saudável elimina as infecções sem sequer termos consciência disso. As superbactérias atacam os mais fracos: recém-nascidos ainda com poucas defesas, doentes, idosos ou pessoas que, prestes a receber um transplante, mantém o sistema imunitário bloqueado para evitar uma rejeição. São as vítimas mais frequentes das infecções hospitalares."

Antibióticos


Adriana Pires e Rita Silva

source:
"Guerra às superbactérias", Super Interessante. (nº188, Dezembro 2013), pp. 88, 89, 90 e 91

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