Alguma vez pensou em como a presença de certos micróbios no nosso organismo ( micróbios são agentes patogénicos, isto é algo que agride ou que é estranho ao organismo) ou mesmo de anticorpos (proteínas produzidas pelo organismo no sentido de neutralizar os agentes patogénicos) podem alterar o nosso humor?
Nós também não! E a título de curiosidade decidimos colocar aqui um artigo que lemos na superinteressante (no site ofcial) para que possa saber mais sobre o assunto:
Na última década, os cientistas descobriram que o
comportamento, o estado de humor e mesmo a memória podem sofrer alterações
tanto pela acção de micróbios externos como sob o efeito de componentes do nosso
próprio sistema imunitário.
Um caso emblemático foi protagonizado por Sammy Maloney, um
rapaz norte-americano que, em 2002, ao completar 12 anos, experimentou uma
súbita e drástica mudança de personalidade. No início, manifestava-se através
de pequenas manias, como usar roupas de determinadas cores ou impedir que se
abrissem as janelas de uma divisão na sua presença. Contudo, seis meses depois
dos primeiros sintomas, já era vítima de um grave distúrbio obsessivo-compulsivo,
acompanhado do síndrome de Tourette. O que tornou o caso ainda mais
surpreendente foi o facto de os sintomas começarem a desaparecer quando os
médicos descobriram que tinha uma infeção por estreptococos (bactéria com forma de coco) e lhe receitaram
antibióticos. Em poucos meses, Sammy voltou a comportar-se como um rapaz
normal.
A história não é tão invulgar como poderia parecer, segundo
comprovou a bióloga Madeleine Cunningham, que trabalha no Departamento de
Microbiologia e Imunologia da Universidade do Oklahoma. Após vários anos a
estudar as ligações entre distúrbios do comportamento e o sistema imunitário,
chegou à conclusão de que os anticorpos produzidos pelo nosso organismo para
combater certos estreptococos conseguem desencadear, numa zona do cérebro, a
libertação massiva de dopamina. Isso poderia explicar a dificuldade em reprimir
comportamentos impulsivos, como aconteceu com Sammy.
Muito diferente é o que nos acontece se estivermos em
contacto com a Mycobacterium vaccae, uma bactéria inofensiva que vive no solo e
que inalamos quando passeamos pelo campo ou por um parque. Segundo um estudo
recente publicado na revista Neuroscience, o micróbio estimula os neurónios do
córtex pré-frontal do cérebro humano para libertarem serotonina, o
neurotransmissor da felicidade e do bem-estar, o que nos põe de óptimo humor.
Deixe que as crianças se sujem!
Christopher Lowry, neurocientista da Universidade de Bristol
(Reino Unido), comprovou que injetar aquela bactéria em ratos exerce um efeito
muito semelhante ao do popular antidepressivo Prozac. Outro colega, Graham
Rook, imunologista da Escola de Medicina do University College London, assegura
que a M. vaccae é mesmo mais específica e eficaz do que os fármacos, pois não
tem efeitos secundários. De facto, Rook defende a teoria de que uma das causas
para o aumento de casos de depressão no Ocidente ao longo do último século é
que não nos expomos o suficiente às diminutas criaturas. Somos prejudicados
pela nossa obsessão pela higiene. “Deveríamos deixar as crianças brincar e
sujar-se mais, e até comer com as mãos sujas de terra”, assegura.
Como se isto não fosse suficiente, Dorothy Matthews,
investigadora dos The Sages Colleges (Nova Iorque), verificou que a M. vaccae
pode também melhorar a capacidade de aprendizagem. Quando alimentavam roedores
com a bactéria viva, Dorothy Matthews e a sua equipa constataram que os
exemplares infetados se deslocavam mais rapidamente pelos labirintos e sofriam
menos de ansiedade. “Podemos especular se seria positivo as escolas programarem
um tipo de aprendizagem ao ar livre para adquirir novas aptidões”, sugere a
investigadora.
É possível que, num futuro não muito distante, possamos
ingerir um punhado destes micro-organismos para nos tornarmos pessoas mais
felizes e inteligentes. De facto, em 2003, Rook e Lowry deram o primeiro passo
nesse sentido, ao registarem uma patente para a utilização de M. vaccae e dos
seus derivados para tratar a ansiedade, os ataques de pânico e os distúrbios
alimentares.
Citoquinas agitadas
Quando apanhamos uma simples gripe, a par da febre, sentimos
sintomas como dificuldade em dormir, perda de apetite e ansiedade. É mesmo
possível que a nossa capacidade de concentração seja menor, que nos sintamos
deprimidos ou que manifestemos determinados comportamentos antissociais. Por outras
palavras, os processos inflamatórios do nosso organismo provocam alterações
evidentes no estado de humor.
Estudos recentes indicam que os responsáveis por essa
desordem emocional são as citoquinas, proteínas produzidas na imunidade mediada por células pelos linfócitos T auxiliares) em reacção à doença.
Porém, nem sequer é preciso adoecer para essas gladiadoras do organismo fazerem
das suas. Nos obesos, por exemplo, a probabilidade de sofrer de depressão é
duas a três vezes mais elevada, pois o tecido adiposo é uma fonte importante
dessas proteínas defensivas.
Por outro lado, o interferão alfa, uma citoquina usada para
tratar a hepatite C, estimula uma área cerebral envolvida na detecção de erros e
conflitos que nos faz ser mais desconfiados e propensos a suspeitas, segundo
revelou Andrew Miller, da Universidade de Emory (Estados Unidos). Por sua vez,
Naiomi Eisenberger, da Universidade da Califórnia, demonstrou, num estudo
publicado na revista Neuroimage, que certas variedades aumentam a actividade em
zonas do cérebro responsáveis pela empatia, isto é, por conseguirmos
colocar-nos no lugar de outras pessoas.
A estreita relação entre o sistema imunitário e o cérebro
não termina aqui. Ao administrar oralmente bactérias Lactobacillus reuteri a
roedores, o professor japonês Takeshi Kamiya obteve efeitos anestésicos a nível
orgânico semelhantes aos da morfina. Por sua vez, Mark Lyte, da Universidade
Tecnológica do Texas, observou que, após ingerir pequenas doses de
Campylobacter jejuni, uma das bactérias que produzem mais intoxicações
alimentares em todo o mundo, sobem os níveis de stress.
E ao que parece esta complexidade que são os nossos sentimentos (ou os nossos humores) vai estando cada vez mais perto de ser desmistificada.
source:
Alexandre Pancadas e Sandra Duarte
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