sexta-feira, 30 de maio de 2014

O que sinto? O sistema imunitário explica!

Alguma vez pensou em como a presença de certos micróbios no nosso organismo ( micróbios são agentes patogénicos, isto é algo que agride ou que é estranho ao organismo) ou mesmo de anticorpos (proteínas produzidas pelo organismo no sentido de neutralizar os agentes patogénicos) podem alterar o nosso humor?
Nós também não! E a título de curiosidade decidimos colocar aqui um artigo que lemos na superinteressante (no site ofcial) para que possa saber mais sobre o assunto:


Na última década, os cientistas descobriram que o comportamento, o estado de humor e mesmo a memória podem sofrer alterações tanto pela acção de micróbios externos como sob o efeito de componentes do nosso próprio sistema imunitário.

Um caso emblemático foi protagonizado por Sammy Maloney, um rapaz norte-americano que, em 2002, ao completar 12 anos, experimentou uma súbita e drástica mudança de personalidade. No início, manifestava-se através de pequenas manias, como usar roupas de determinadas cores ou impedir que se abrissem as janelas de uma divisão na sua presença. Contudo, seis meses depois dos primeiros sintomas, já era vítima de um grave distúrbio obsessivo-compulsivo, acompanhado do síndrome de Tourette. O que tornou o caso ainda mais surpreendente foi o facto de os sintomas começarem a desaparecer quando os médicos descobriram que tinha uma infeção por estreptococos (bactéria com forma de coco) e lhe receitaram antibióticos. Em poucos meses, Sammy voltou a comportar-se como um rapaz normal.

A história não é tão invulgar como poderia parecer, segundo comprovou a bióloga Madeleine Cunningham, que trabalha no Departamento de Microbiologia e Imunologia da Universidade do Oklahoma. Após vários anos a estudar as ligações entre distúrbios do comportamento e o sistema imunitário, chegou à conclusão de que os anticorpos produzidos pelo nosso organismo para combater certos estreptococos conseguem desencadear, numa zona do cérebro, a libertação massiva de dopamina. Isso poderia explicar a dificuldade em reprimir comportamentos impulsivos, como aconteceu com Sammy.

Muito diferente é o que nos acontece se estivermos em contacto com a Mycobacterium vaccae, uma bactéria inofensiva que vive no solo e que inalamos quando passeamos pelo campo ou por um parque. Segundo um estudo recente publicado na revista Neuroscience, o micróbio estimula os neurónios do córtex pré-frontal do cérebro humano para libertarem serotonina, o neurotransmissor da felicidade e do bem-estar, o que nos põe de óptimo humor.


Deixe que as crianças se sujem!

Christopher Lowry, neurocientista da Universidade de Bristol (Reino Unido), comprovou que injetar aquela bactéria em ratos exerce um efeito muito semelhante ao do popular antidepressivo Prozac. Outro colega, Graham Rook, imunologista da Escola de Medicina do University College London, assegura que a M. vaccae é mesmo mais específica e eficaz do que os fármacos, pois não tem efeitos secundários. De facto, Rook defende a teoria de que uma das causas para o aumento de casos de depressão no Ocidente ao longo do último século é que não nos expomos o suficiente às diminutas criaturas. Somos prejudicados pela nossa obsessão pela higiene. “Deveríamos deixar as crianças brincar e sujar-se mais, e até comer com as mãos sujas de terra”, assegura.

Como se isto não fosse suficiente, Dorothy Matthews, investigadora dos The Sages Colleges (Nova Iorque), verificou que a M. vaccae pode também melhorar a capacidade de aprendizagem. Quando alimentavam roedores com a bactéria viva, Dorothy Matthews e a sua equipa constataram que os exemplares infetados se deslocavam mais rapidamente pelos labirintos e sofriam menos de ansiedade. “Podemos especular se seria positivo as escolas programarem um tipo de aprendizagem ao ar livre para adquirir novas aptidões”, sugere a investigadora.

É possível que, num futuro não muito distante, possamos ingerir um punhado destes micro-organismos para nos tornarmos pessoas mais felizes e inteligentes. De facto, em 2003, Rook e Lowry deram o primeiro passo nesse sentido, ao registarem uma patente para a utilização de M. vaccae e dos seus derivados para tratar a ansiedade, os ataques de pânico e os distúrbios alimentares.

Citoquinas agitadas

Quando apanhamos uma simples gripe, a par da febre, sentimos sintomas como dificuldade em dormir, perda de apetite e ansiedade. É mesmo possível que a nossa capacidade de concentração seja menor, que nos sintamos deprimidos ou que manifestemos determinados comportamentos antissociais. Por outras palavras, os processos inflamatórios do nosso organismo provocam alterações evidentes no estado de humor.

Estudos recentes indicam que os responsáveis por essa desordem emocional são as citoquinas, proteínas produzidas na imunidade mediada por células pelos linfócitos T auxiliares) em reacção à doença. Porém, nem sequer é preciso adoecer para essas gladiadoras do organismo fazerem das suas. Nos obesos, por exemplo, a probabilidade de sofrer de depressão é duas a três vezes mais elevada, pois o tecido adiposo é uma fonte importante dessas proteínas defensivas.

Por outro lado, o interferão alfa, uma citoquina usada para tratar a hepatite C, estimula uma área cerebral envolvida na detecção de erros e conflitos que nos faz ser mais desconfiados e propensos a suspeitas, segundo revelou Andrew Miller, da Universidade de Emory (Estados Unidos). Por sua vez, Naiomi Eisenberger, da Universidade da Califórnia, demonstrou, num estudo publicado na revista Neuroimage, que certas variedades aumentam a actividade em zonas do cérebro responsáveis pela empatia, isto é, por conseguirmos colocar-nos no lugar de outras pessoas.


A estreita relação entre o sistema imunitário e o cérebro não termina aqui. Ao administrar oralmente bactérias Lactobacillus reuteri a roe­dores, o professor japonês Takeshi Kamiya obteve efeitos anestésicos a nível orgânico semelhantes aos da morfina. Por sua vez, Mark Lyte, da Universidade Tecnológica do Texas, observou que, após ingerir pequenas doses de Campylobacter jejuni, uma das bactérias que produzem mais intoxicações alimentares em todo o mundo, sobem os níveis de stress.

E ao que parece esta complexidade que são os nossos sentimentos (ou os nossos humores) vai estando cada vez mais perto de ser desmistificada.

source: 

Alexandre Pancadas e Sandra Duarte

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