Quando determinado indivíduo sofre um transplante é necessário que este tome imunosupressores de forma a diminuir a probabilidade de rejeição do transplante. Isto é, é necessário que lhe sejam administrados medicamentos que fragilizem o sistema imunitário para que o sistema imunitário deste indivíduo não reconheça o órgão/tecido que lhe foi transplantado como estranho e dê uma resposta imunitária no sentido de neutralizar esse agente estranho.
Infelizmente, a administração deste tipo de medicamentos tornam os pacientes que sofreram o transplante mais vulneráveis a infecções e ao desenvolvimento de certos tipos de cancros. E é por isso que a comunidade científica tem trabalhado cada vez mais para tornar estes imunosupressores mais específicos, isto é tornar o sistema imunitário inactivo em certos locais do organismo.
E para que possamos trazer uma boa notícia aos leitores deste blog decidimos postar aqui um artigo que lemos na superinteressante (site oficial). Por enquanto é só uma boa notícia para quem sofreu/vai sofrer transplante do fígado, mas como se costuma dizer "grão a grão enche a galinha o papo".
Artigo da superinteressante:
Investigadores do Instituto de Medicina Molecular, em Lisboa,
identificaram uma nova população de linfócitos reguladores que se localizam
especificamente no fígado e têm forte capacidade imunossupressora, e
encontraram uma estratégia para estimular a formação destes linfócitos. Esta
descoberta permite desenvolver a primeira terapia celular imunossupressora
restringida a um local específico do organismo e tem aplicação no combate à
rejeição de orgãos após transplante, em particular do fígado. A sua aplicação
poderá permitir minimizar os efeitos crónicos da imunossupressão após
transplante, nomeadamente a exposição acrescida a infecções e cancro, que
colocam, muitas vezes, em risco a vida dos transplantados.
Os resultados são publicados no dia 15 de Agosto na
prestigiada revista Journal of Immunology e deram origem a uma empresa
spin-off, a Acellera Therapeutics, em processo de criação.
Os linfócitos reguladores são células do sistema imunitário
que controlam a actividade dos linfócitos T, aqueles responsáveis pela defesa
do organismo contra agentes infecciosos. Quando a actividade dos linfócitos T
não é correctamente controlada pelos linfócitos reguladores, surgem doenças
autoimunes e doenças alérgicas como a asma.
Em estudos pré-clínicos realizados por várias equipas de
investigadores com vista a desenvolver terapias contra efeitos adversos
ocorridos após transplante de medula, verificou-se que, quando administrados a
um indivíduo, os linfócitos reguladores conhecidos até agora (chamados Treg) se
acumulam globalmente nos orgãos linfáticos de todo o organismo.
O que os investigadores portugueses descobriram agora foi um
tipo diferente de linfócitos reguladores a que chamaram NKTreg e que, embora
tendo igualmente forte capacidade imunossupressora ou reguladora, se acumulam
especificamente no fígado após injecção intra-venosa. É esta característica que
permite potencialmente restringir a imunossupressão a um orgão específico
podendo levar à diminuição dos riscos associados à imunosuppressão após
transplante, como as infecções e cancro.
Os investigadores descobriram ainda que conseguem obter
estas células reguladoras a partir do sangue humano, abrindo perspectivas para
uma nova terapia celular. O processo de formação das NKTreg a partir de células
percursoras humanas e a sua aplicação terapêutica foram já patenteados pela
equipa, que conta ainda com a participação de David Cristina (do Instituto
Gulbenkian de Ciência) para desenvolver o plano de negócio da Acellera
Therapeutics.
“O que o nosso estudo trouxe de novo foi a caracterização de
uma população de células do sistema imunitário até agora desconhecida”, revela
Marta Monteiro, primeira autora do estudo. “O que descobrimos foi que estas
células têm a capacidade de regular os linfócitos T, e de forma localizada no
fígado”, prossegue a investigadora.
“Estes resultados, obtidos no laboratório, têm enorme
potencial terapêutico”, afirma Luis Graça, líder da equipa. “ Estamos agora a
trabalhar para desenvolver uma terapia celular baseada no estudo publicado, que
poderá diminuir os problemas associados aos transplantes de fígado: evitar a
rejeição, reduzindo ao mesmo tempo os graves efeitos adversos das actuais
terapêuticas imunossupressoras.”
Adriana Pires, Alexandre Pancadas, Rita Silva e Sandra Duarte